Uma das características mais fortes da cantora, pastora, escritora e personalidade do mercado fonográfico cristão, é a ousadia. Nunca teve medo de sair do lugar comum, sempre muito aclamada por seu público por sua sonoridade pop, suas baladas sempre fizerem a cabeça do povo cristão. Quem não se lembra de Teu Lugar, O que diz meu Coração, Sonhos, Meu bem maior, Amo o Senhor, Quebrantado Coração, Espírito Santo? Essas e tantas outras não só embalaram, mas emplacam nos dias atuais seja em cultos, pequenos grupos e células.
Fernanda não teve medo de deixar as baladas de lado e toda a constituição pop de seus discos e veio de uma forma bem simples com canções puramente congregacionais gravadas ao vivo de forma crua na até então Igreja onde ela e seu marido eram pastores Igreja Batista Ebenézer. Estamos falando do disco Apenas Um toque, o primeiro disco ao vivo de inéditas vindo de uma cantora consagrada pelo seu pop-gospel. Se a crítica especializada na época não conseguiu assimilar o choque sonoro porque estavam acostumados a ouvirem Fernanda Brum sempre envolta em arranjos grandiosos, seu público imediatamente se identificou com o disco e fez dele um grande marco na carreira da cantora e suas canções foram exaustivamente executadas nas igrejas de todo o Brasil. Apenas um toque só foi responsável por abrir a leva de discos ao vivo de músicas inéditas de artistas solo. O que antes era comum em Ministérios e Comunidades, passou a ser um pré-requisito. O projeto de alguma forma tinha que ser ao vivo. Foi depois deste que vieram outros grandes discos no mercado gospel como Terremoto da sua declarada best Eyshila e o mega sucesso Som de Adoradores de Aline Barros.
Depois dele vieram o Profetizando às Nações em que abordava de forma pioneira a visão missionária, Cura-me tinha o diferencial de trazer músicas voltadas à restauração da alma, Glória parecia ser uma sequência amadurecida de Cura-me e Liberta-me, um disco que trazia a volta daquela Fernanda das baladas e de sonoridade pop. Uma trilogia que apesar de poucas inovações musicais carregaram um conceito interessante e hoje podem ser vistos como três discos complementares.
E na terceira semana de 2015 chegou ao mercado, cercado de muitas expectativas, críticas e polêmicas o novo disco de Fernanda Brum, Da Eternidade, lançado pela MK Music e que pode ser resumido com o seguinte provérbio popular “Cão que muito late não morde”. Toda a euforia começou quando a cantora postou em suas redes sociais (recurso bastante utilizado por ela e sua equipe) que o novo disco seria ao vivo e os que gostariam de participar do coral poderiam se inscrever. O repertório, os ensaios, a gravação, a elaboração dos arranjos, tudo sempre muito noticiado, divulgado e esperado por seu público.
Outro grande acontecimento na preparação do disco se deu na escolha da capa. Foi disponibilizado em sua fanpage no Facebook duas capas para que o público escolhesse uma para vir a ser a capa oficial de seu novo álbum. As capas eram de muito bom gosto, mas gerou polêmica por conta do símbolo matemático do infinito, o que fez a cantora perder horas de estudos do símbolo para explicar ao seu público.
O resultado? Simplesmente decepcionante. Decepcionante porque em meio a todo marketing gerado em torno do projeto o que se esperava era algo diferente, aquela Fernanda ousada, de reviravoltas, mas o que se teve nem se quer foi mais do mesmo foi menos do mesmo. A ccomeçar pelo time de músicos que ampararam a cantora e seu marido produtor Emerson Pinheiro. Teve o baixista Dedy Coutinho (ex Banda Giom), o tecladista e produtor Johny Essi, ambos que colaboraram com os arranjos. Resultado: Nada demais! Sonoridade estereotipada mediana! Teve um produtor vocal que até então não vinha trabalhado com Fernanda Brum, o cantor André Leonno, resultado: A pior performance vocal já vista de Fernanda Brum.
O repertório? Teve de tudo e não teve de nada. O CD abre com uma música de Kleber Lucas, Efésios, uma associação de Roma com Babilônia, Rio de Janeiro com Nova York, e a Igreja de Éfeso também aparece na música. Anderson Freire vem com duas músicas que não se destacam em nada (Suas Digitais – escolhida como single, e que após ouvir o CD inteiro algumas vezes não se entende a escolha – e Troféu, já é mais comercial, mas nada demais). Seria alguma espécie de lógica o compositor quando faz sucesso como cantor esfriar como compositor de terceiros? Abrindo aspas, após lançar Raridade, Anderson Freire não apresentou nenhuma composição de destaque.
Voltando ao repertório, entraram de maneira surpreendente três versões (isso é um feito): Santo (Holy) do IHOPKC, uma canção que já faz parte do Global Worship e no Brasil já gravada por Juliano Son, Diante do Trono, Sara Alencar e Nivea Soares, e na voz de Fernanda Brum ganhou a sua pior versão. A intenção em preservar o espontâneo original da canção foi até bacana, mas poderia manter assim como a Nivea Soares o original, as alterações não ficaram boas e muito menos a tradução. Não precisávamos de mais uma versão dessa canção, que com certeza não será a oficial dada a superioridade de todas as outras. As outras duas versões são do Jason Upton, Em Tua presença e Pai dos Órfãos, parecem mais estarem ligadas a uma experiência pessoal da Fernanda Brum do que de fato serem músicas boas o bastante ao ponto de serem versionadas. No trabalho elas ficam soltas.
Ainda tem uma música voltada pra missões de Fernanda com Luiz Arcanjo Alguém vai me ouvir que mais parece uma canção infantil, e a (re)gravação da música O que Tua glória fez comigo, canção de adoração que vem sendo bastante executada nas igrejas com viés mais profético do Ministério Voz de Muitas Águas e também ganhou versão na voz da cantora pentecostal Elaine de Jesus, sendo ela um dos grandes destaques (se não o maior) nesse disco. Ainda no time de compositores temos: Davi Moura na percussiva (e inexpressiva) Som do Meu Amado, Junior Maciel e Josias Teixeira nas baladas medianas Minha Oferta e Deus está me Construindo, Emerson Pinheiro que divide com Fernanda a faixa titulo Da eternidade e com Klênio a interessante Faz Brilhar que teve um medley com o Clássico Brilha Jesus, outro momento de destaque do disco. Um disco anunciado como Da Eternidade, mas que soou bem terrestre e sem rumo.
Se a ideia com esse segundo disco ao vivo da cantora era uma evolução de Apenas um Toque, o resultado não aconteceu. Talvez se a cantora tivesse utilizado das mesmas ferramentas simplórias para a elaboração deste disco como fez em Apenas um toque, talvez o resultado seria menos decepcionante. Agora, quando se anuncia uma produção “Hollywodiana”, ninguém ta esperando ver um filme de um circuito “indie”. Da Eternidade é exatamente o filme indie que você não espera ver em uma produção Hollywoodiana.
Análise feita por Philipe Daniel
Selo: MK Music
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Playlist: Efésios | Som do meu Amado | Da Eternidade | Troféu | Suas Digitais | Minha oferta | Deus está me construindo | Santo | O que Tua glória fez comigo | Pai dos órfãos | Em Tua presença | Alguém vai me ouvir | Faz brilhar/ Brilha Jesus