É um velho debate na indústria musical cristã: Deveriam os artistas tentarem alcançar o mainstream (podemos dizer que na música, o termo mainstream é quando ele rompe barreiras religiosas e abraça a todos), ou devem reservar seus talentos e dons para o Senhor e para os irmãos em Cristo?
Kirk Franklin, um dos artistas de maior sucesso na história da música cristã internacional, foi recebido com palmas e ganhou expressão quando entrou em cena com o crossover (no meio musical é a junção de dois ou mais estilos) no mercado cristão, o que ele fez? Misturou o R&B, o Hip Hop e o gospel tradicional. Tudo isto aconteceu no álbum lançado em 1997, God’s Property from Kirk Franklin’s Nu Nation, precisou apenas de um único single, Stomp, com uma mensagem incisiva: Para aqueles que pensam que a música gospel tinha ido longe demais, acha que começamos um movimento radical com a nossa mensagem? Bem, eu tenho notícias para você: ‘seus ouvidos não ouviram nada ainda!’ Pequeno trecho da faixa, trazendo para a nossa atualidade, seria uma música para evangelismo. Assista o clipe abaixo.
E de lá pra cá o que vem acontecendo são artistas e bandas com componentes cristãos que desejam ampliar o seu público, ganhando a todos, não só os irmãos na fé. O single Stomp, presente no álbum de Kirk Franklin contou com a participação de Cheryl “Salt” James, que faz parte de um grupo formado por mulheres que de forma inovadora tem como veia principal o rap, Salt-N-Pepa. O álbum foi impulsionado para o topo das paradas somente com este single no meio R&B e em #3 no pop music, conseguindo assim até o momento disco de platina triplo.
A banda de rock/ pop Sixpence None the Richer passaram por uma boa polêmica no mesmo ano. A banda lançou um álbum com o nome da banda mesmo. Embora as letras estavam baseadas na fé cristã, em boa parte do projeto, foi uma canção de amor, Kiss Me, que empurrou a banda para a ribalta internacional, recebeu tanta atenção mainstream que foi inserida em filmes como She’s All That e Not Another Teen Movie, bem como na série popular Dawson’s Creek.
Podemos dizer que o Kirk e Sixpense conseguiram foi com que sua música independente se cristã explícita ou não, pudesse alcançar as pessoas que não frequentam uma igreja, que não professam a mesma fé, mas que se identificam com a mensagem e a musicalidade apresentada.
Os brasileiros há um tempo tem um bom representante do rock, eles conseguem muito bem difundir sua música tanto no mercado gospel como no mercado secular, falamos da banda Oficina G3, pertencem ao cast da gravadora cristã MK Music.
A boa música, a qualidade dos membros da banda, a letra com mensagens positivas e mensagens que professam a fé fazem com que tenham um público bem mainstream. Vemos claramente que são admirados por todos quando temos a oportunidade de visitar eventos musicais como a famosa Expo Music que acontece em São Paulo, Capital.
E atualmente no mercado nacional cristão há um movimento querendo difundir o termo crossover como um estilo musical, porém não o é, está mais para um álbum eclético, algo que temos o costume de dizer de projetos que possuem ritmos variados dentro de um repertório. Mas ainda querem abraçar este nome por serem cristãos, mas não trazem em suas músicas a mensagem explícita sobre o cristianismo, ele está lá mas de uma maneira oculta.
E quem defende o termo é a banda de BH, Palavrantiga, que ao longo dos anos já apresentou 1 EP e 2 CDs e atualmente fazem parte do selo cristão Você Adora da gravadora Som Livre. A sonoridade costumam dizer que é o rock brasileiro, só que acrescentam indie, reggae, elementos MPB e alguns outros. O diferencial está nas letras, podem até expressar a fé dos membros da banda, mas sem ser explícito, aquela mensagem baseada na bíblia, usam poesia, transferem textos bíblicos para uma realidade e assim vão construindo boa parte do repertório.
É realmente uma coisa ruim para os artistas cristãos terem fãs fora da igreja? Buscar o mainstream? Claro que não é, muito pelo contrário, aqueles que usam da música sua forma de anunciar o evangelho, é mais que justo que façam um trabalho de qualidade, é para Deus OK? Sempre o melhor, buscando em cada álbum uma identidade musical, um repertório baseado na Bíblia, com mensagens cristãs, uma visão de reino, a ordem e decência sendo base.
A música cristã brasileira vem melhorando a passos curtos, há muito o que crescer comparando a música brasileira com a música americana, mas os poucos que temos podem servir como base para os que estão chegando agora, principalmente os que querem utilizar o crossover. Só que entendam crossover não é um novo estilo musical cristão.
Na música cristã nacional ainda há uma deficiência em relação a repertório, produtores musicais com ideias inovadoras, artistas que queiram mostrar identidade, temos alguns? Sim muito poucos, precisamos de mais nomes, e as gravadoras precisam investir mais nesses novos nomes que tem grandes possibilidades de se tornaram discos de ouro, platina, diamante. Mais do mesmo já temos, precisamos mais de qualidade. Assim como a renda vem aumentando no Brasil, o gosto do brasileiro seja ele cristão ou não vem se refinando.
Se estamos nesta terra para espalhar a palavra de Deus, por todos os meios, a música é uma grande ferramenta para tal, correto?
por Alex Eduardo